quarta-feira, 1 de março de 2023

O novo título do tesouro Renda+ vale a pena? E atualização do patrimônio de FEV/23.

“Para aqueles que estão adorando ver o Estado esmagar alguns cidadãos, fica a mensagem: governos passam, mas o Estado fica.”


Que o INSS é um esquema de pirâmide insustentável qualquer um com mais de 2 neurônios sabe. Lendo sobre a criação do INSS vemos que já existiam iniciativas previdenciárias desde o tempo do Brasil império, com o Montepio Geral dos Servidores do Estado que tinha a lógica de um seguro de vida de hoje, o interessado comprava cotas que davam direito a quem ele indicasse receber uma pensão em caso de morte do titular.
Na constituição de 1934 foi instituída a tríplice forma de custeio (governo, empregadores e empregados) e a noção do “risco social” (doença, invalidez, velhice e morte).


Na teoria é bonito e deveria funcionar, na prática tudo que envolve governo envolve maracutaia. O tal custeio tríplice é um jogo de cena, pois os empregadores não custeiam nada. Digamos que para determinado cargo o empregador pode pagar no máximo R$3000 se ele tem que descontar 11% de INSS teu salário virou R$2670, então o custeio fica só entre empregados e governo.
Mas tem mais um truque de mágica ai, o governo não tem dinheiro, ele não pode te dar nada a mais do que tenha tirado dos próprios contribuintes, assim a parte do custeio do governo é paga ou de dinheiro de impostos ou emitindo dívida em nome dos cidadãos. Pronto está completa a mágica, 100% do custeio cai de uma forma ou de outra no lombo do trabalhador.
Então temos uma situação escrota para caralho, temos uma previdência 100% custeado pelo trabalhador, mas 100% administrada pelos políticos. Junta o fato de que o sistema foi desenhado em uma época de grande crescimento populacional e hoje a tendência é de crescimento menor, depois estagnação e depois declínio populacional, assim a tendência é de que sejam impostas cada vez mais barreiras para se aposentar e que o valor das aposentadorias seja cada vez mais baixo.

Tá bom Mendigo, para de chorar e enrolar, eu quero saber se o tesouro Renda+ vale a pena.
Tudo que envolve investimentos, envolve risco. Se envolve prazos longos, envolve mais risco e se envolve o governo, envolve mais risco.
Dito isso, se é para ser credor de alguém, por longos prazos, que seja do dono da impressora. Os títulos do tesouro direto são uma parte muito pequena da dívida do governo e envolvem muita gente (muitos votos), então dificilmente haverá calote desses títulos, quando o governo pode jogar facilmente a conta no lombo de toda a população via imposto inflacionário. E caso ele faça isso quem tiver esses títulos estará melhor posicionado do que quem não tiver investimentos atrelados à inflação.

Minha outra ressalva quanto a esses títulos é que o IPCA não reflete muito bem a inflação real, seria melhor um título indexado ao IGPM. Isso poderia ser problemático se a renda fosse corrigida apenas pelo IPCA, mas como ela é corrigida pelo IPCA+Juros está tudo bem desde que você compre títulos IPCA+3,5% que é o que iguala aproximadamente o IGPM.

Outro ponto de atenção é que os valores apresentados no simulador são brutos, sem descontar o IR. Assim quem deseja receber um salário-mínimo de complemento da aposentadoria não adianta colocar R$1302 no simulador, pois vai receber na verdade R$1107. Para receber líquido R$1302 o valor a ser usado no simulador é 1302 / 0,85 = R$1532.

Então o título Renda+ é uma boa? Eu acho uma boa sim, com algumas ressalvas:
- Nunca para a aposentadoria toda, apenas para uma complementação, é a velha máxima não coloque todos os ovos na mesma cesta.
- Não compre títulos pagando juros muito baixos. Veja meu post anterior, em épocas de juros baixos talvez valha mais a pena investir em CDB IPCA+ que pagam juros melhores e só travar taxas mais altas no tesouro.
- Lembre-se que o recebimento é apenas por 20 anos. Esse prazo pode ser adequado para quem vai se aposentar aos 65 anos, mas pode ser muito curto para quem quer se aposentar antes.

Então qual vai ser a estratégia do Mendigo com esses títulos?
Vou inicialmente tentar garantir o recebimento de um salário-mínimo por 35 anos, comprando dois títulos o Renda+2030 e o Renda+2045, assim eu começaria a receber com 50 anos e receberia até os 85 anos (confiando no governo brasileiro até 2065, haja coração). Tem um período de 5 anos em que eu recebo 2 salários, mas achei melhor isso do que receber até os improváveis 90 anos.

Simulando com as taxas de hoje: Renda+2030 6,43% e Renda+2045 6,43%
Eu teria que adquirir 91,32 de cada título.
Investir R$137’208 no Renda+2030 e R$54’046 no Renda+2045, no total R$191’254.
Como dificilmente alguém vai aportar tudo de uma vez tem que ser calculado como deve ser o aporte.
Os preços dos títulos são: Renda+2030 R$1502,50 e Renda+2045 R$591,83
Então 1502,5 + 591,83 = 2094,33
591,83 / 2094,33 = 0,28
Assim 28% do aporte deve ser no título Renda+2045, caso o aporte mensal seja de R$3000 deve-se comprar R$840 do Renda+2045 e R$2160 do Renda+2030.

A grande vantagem desses novos títulos é a previsibilidade, garantindo uma renda que mantêm o poder de compra sem ter que ficar esquentando a cabeça com os rolos da renda variável. Esse título mostra também o poder dos juros compostos, quem tiver cabeça para desde jovem investir nisso vai garantir uma boa renda complementar sem muito esforço. Alguém com 20 anos e que planeje se aposentar aos 60 começaria teria que comprar 0,19 títulos Renda+2065 que hoje custariam R$32,46 por mês. Deixou de comer uma pizza por mês para garantir um salário-mínimo por 20 anos na velhice, parece uma boa troca.


Patrimônio de FEV/2023

Patrimônio = R$ 1’340’377,73
Aporte = R$ 18’977,91 (1,42% patrimônio)
Rentabilidade = -0,02%
Inflação = 0,37%
CDI = 0,92%
Rentabilidade acumulada desde dez 2017 = 31,43%
Inflação acumulada = 37,74%
CDI livre de IR acumulado = 28,83%

Rentabilidade quase zero esse mês, mas o patrimônio crescendo forte.
É só os investimentos não jogarem muito contra que a coisa vai, o valor acumulado demorou 15 meses para crescer de R$1,2kk para 1,3kk e agora em um mês já chegou na metade do caminho entre 1,3kk e 1,4kk.



 

Os bons tempos estão voltando.

11 comentários:

  1. Bom dia Mendigo! Legal o post. Também tenho estudado o renda+, mas o que me incomoda são os poucos benefícios em relação ao IPCA+...Perderam a oportunidade de criar um investimento incentivado para aposentadoria (tipo a conta nos EUA que você não paga imposto mas só pode sacar depois de XX anos). Mas não deixa de ser uma boa alternativa pra quem tem a aposentadoria bem planejada...Grande abraço!

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    1. Pois é, seria excelente ter uma conta isenta de impostos para estimular a aposentadoria. Mas os coitadinhos dos políticos não podem ficar sem a lagosta deles, né.

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    2. Eu ainda estou optando pelo título IPCA+, apesar de gostar muito do TD, esse novo título não vi vantagens...

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  2. Interessante sua análise, mendigo. Obrigado por compartilhar.
    E sobre o INSS, cada vez que alguém explica sobre essa pirâmide, me da mais arrepios.
    Abraços!

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    1. É complicado mesmo confiar 100% no INSS para aposentadoria, acredito que muitos vão sofrer.
      Adicionado seu blog nos que eu acompanho.
      Abraços.

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  3. Bom post. Não sei se confio, tenho um pezinho para trás em relação a títulos públicos, acho uma aposta muito arriscada em uma entidade só. Nas ações ao menos eu estou "apostando" em várias entidades (claro que elas também são afetadas pelo governo, mas têm mais meios do que nós de se protegerem). Mas mesmo assim seu post me deu uma animada para estudar os títulos atrelados ao IPCA.
    Esses de renda vou pensar, mas me parece que diminuem os juros compostos, não? Qual a diferença entre estes e aqueles que pagam juros semestralmente?

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    1. O Renda+ paga todo o principal mais os juros mensalmente dividido em 20 anos, quando chega no final não tem nada a mais para receber. O IPCA+ com juros semestrais paga os juros a cada semestre e no final devolve o principal corrigido.
      Esse que pagam periodicamente diminuem os juros compostos, só servem para quem já está na fase de usufruto da aposentadoria, o que maximiza os juros compostos é o IPCA+ simples.
      Abraços.

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  4. Mendigo,

    Esse negócio de Renda+ eu passo é longe, não consigo confiar em um acordo com o governo para daqui 20-30 anos.

    Sobre a pirâmide da previdência eu tenho certeza que o modelo é insustentável, mas também tenho certeza de que quando o negócio estiver para desmoronar o governo vai ir atrás de uma grana e tirar a força de quem tem patrimônio (sejam ações, títulos, imóveis e etc.) através de novos impostos. Essa é a diferença da pirâmide financeira tradicional para a da previdência, na última o dono da pirâmide pode forçar você a fazer novos aportes para manter o esquema de pé.

    Apesar de você está lateralizado na rentabilidade o gráfico de patrimônio é lindo e mais cedo ou mais tarde a rentabilidade virá. Vamos encarar essa lateralidade como o momento de comprar barato.

    Abraços,
    Pi

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  5. Acho que teu gráfico de rentabilidade está muito bom, porque entrou em um período de alta, ainda conseguiu manter a rentabilidade acima do CDI, é excelente considerando que o CDI está super alto hoje. E o gráfico de ativos mais lindo ainda :) Abraços

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    1. Voltei aqui pra comentar, pensando um pouco mais sobre esse título, ele seria ideal se fosse isento de IR, conforme VVI comentou, e outro ponto que sonhei aqui, seria o ideal era dar a opção para os mais novos que estão entrando no mercado de trabalho optar por, ao invés da contribuição obrigatória para a pirâmide do INSS, pudessem ter essa contribuição obrigatória aplicada nesse título, mas isso nunca vai acontecer nesse Brasil, só estou sonhando aqui. Abraços

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  6. Excelente post, Mendigo!
    Já aprendi um pouco e vi que precisarei estudar mais kkk

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