segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Regra do 4%? Achei uma estratégia melhor e atualização do patrimônio de SET/24

“O homem cria a ferramenta, a ferramenta molda o homem.” - Marshall McLuhan

Existem diversas estratégias para gastar o dinheiro na IF e tentar evitar que ele acabe. Nenhuma das estratégias é perfeita, pois não sabemos quando vamos morrer e nem o desempenho do mercado financeiro no futuro. As garantias dessas estratégias são sempre estatísticas, ou seja, aplicamos essa estratégia em vários períodos do passado e vemos qual foi a performance. Essas estratégias sempre são testadas no mercado americano, pois há dados do mercado financeiro desde 1871, o que é ótimo, pois nesse período houve incontáveis desastres e mudanças no mundo. Dá uma segurança a mais saber, por exemplo, que a estratégia que você escolheu funcionou até para quem se aposentou em 1928, um pouco antes da grande depressão.

Por outro lado utilizar dados do mercado americano para um FIRE brasileiro é complicado, pois lá o mercado de ações é muito melhor e a taxa de juros e inflação são menores. A alocação padrão de um americano para aposentadoria é 60% ações e 40% renda fixa. Eu prefiro inverter essa lógica e usar 60% RF e 40% RV, o que deixa a simulação mais conservadora. O site usado nas simulações é o meu querido https://ficalc.app/ e utilizarei meu patrimônio total do mês passado R$2’825’000.

Estratégia 1 - Regra dos 4%

Primeiro cabe explicar sobre como funciona essa regra, pois eu tinha um entendimento errado sobre ela antes de estudar a fundo. Essa regra nasceu em 1994 de dos estudos de Bill Bengen, um planejador financeiro e foi confirmado em 1998 por um estudo da universidade de Trinity.
Essa estratégia privilegia gastos constantes ao longo do tempo, o que é bem adequado a aposentadoria e que a chance de acabar o seu patrimônio em 30 anos seja menor que 5%.
A estratégia funciona assim: você gasta 4% do seu patrimônio no primeiro ano de aposentadoria e nos anos seguintes apenas atualiza esse valor gasto pela inflação. Você ignora totalmente se o valor do seu patrimônio ou se o mercado está subindo ou caindo.

Colocando meus números na regra clássica (4%, 30 anos) dá uma taxa de sucesso de 94,4%. Caso eu suba para 40 anos, a taxa de sucesso cai para 86% e ainda 28,9% dos períodos que tiveram sucesso terminaram com pouco patrimônio, ou seja, teu dinheiro não acabou, mas você passou nervoso no fim da vida achando que ele acabaria, o que é no mínimo desagradável.

Para melhorar a taxa de sucesso tenho que diminuir a taxa segura de retirada para 3,6%, isso eleva a taxa de sucesso para 97,4%, mas ainda tem uma chance de 20% de terminar com pouco patrimônio e paradoxalmente tem uma chance de 25% de terminar com muito patrimônio. Se eu baixo ainda mais a taxa de retirada para 3,1% eu reduzo para menos de 5% a chance de terminar com pouco patrimônio, mas elevo a chance para 30% de terminar com muito. Essa é uma limitação intrínseca a essa estratégia, ela é muito rígida e ignora a evolução da sua carteira de investimentos, então, quanto mais segurança você quer, mais dinheiro vai deixar de usufruir.

Outra coisa a se verificar é o risco longevidade, nessa estratégia aumentando o período de usufruto para 50 e 60 anos, a taxa de sucesso cai para 90% e a chance de acabar com pouco patrimônio volta para a casa dos 20%.

Resumo:
Taxa de retirada segura: 3,6% = R$101’000 / ano = R$8’417 / mês
Taxa de sucesso: 97,4%
Sem variação mês a mês
Chance de deixar muito dinheiro para trás: 25%
Chance de passar sufoco: 20%

Estratégia 2 - Gastar uma porcentagem fixa do patrimônio todo ano

Nessa estratégia decidimos uma % do patrimônio a ser gasta todo ano e repetimos isso até morrer. Nessa estratégia o dinheiro nunca acaba, pois você gasta apenas uma porcentagem dele. O problema é que as retiradas variam ao sabor dos resultados dos investimentos, ou seja, você se programa com um certo gasto e se o mercado for mal pode ter apenas metade desse orçamento disponível, ou se retirar demais pode corroer o patrimônio e terminar com uma renda insuficiente para uma boa qualidade de vida.

Se eu defino 4% como a taxa de retirada, mesmo para 40 anos eu tenho uma taxa de sucesso de 100%. Ainda resolvo o problema de deixar muito ou pouco patrimônio que ficam abaixo de 10%.
Não há risco de longevidade nessa estratégia, mesmo aumentando o usufruto para 50 e 60 anos a taxa de sucesso continua em 100%. Posso aumentar a taxa de retirada para 5% e ainda tenho uma taxa de sucesso de 100%.
Nossa Mendigo, achei a estratégia certa para mim, posso gastar mais e ainda ter uma taxa de sucesso maior do que na estratégia anterior. Calma, pequeno gafanhoto, lembre-se que não há almoço grátis, você resolveu alguns problemas e criou outro. Nessa estratégia você pode começar gastando mais que na anterior e a taxa de sucesso é sempre 100%, mas a renda vai variar e vai variar muito, dependendo dos resultados dos investimentos. Fica complicado planejar a vida com essa variação, imagine em um ano ter 8400 disponíveis por mês e no próximo apenas 3100? Com certeza você não vai deixar de pagar o plano de saúde, ou ficar trancado em casa comendo arroz com ovo por anos até o mercado financeiro se recuperar.

Você pode limitar essa queda na renda a 15% o que eu acho bem tranquila, seria em um ano ter uma renda de 8400 ao mês e em outro 7140. Essa limitação na queda de renda resolve boa parte dos problemas dessa estratégia, ao mesmo tempo que permite gastar mais que na estratégia anterior.

Resumo:
Taxa de retirada segura: 3,9% = R$110’175 / ano = R$9’181 / mês
Taxa de sucesso: 100%
Variação de renda: 93’650 a 344’754 (média 123’874)
Chance de deixar muito dinheiro para trás: 7%
Chance de passar sufoco: 11%

Estratégia 3 - Vanguard Dynamic Spending

A estratégia 2 já foi uma boa melhora, permitiu que houvesse um gasto médio acima da estratégia 1, reduziu a chance de deixar muito ou terminar com pouco patrimônio e ainda aumentou a taxa de sucesso e reduziu o risco de longevidade. Você tem todos esses ganhos apenas aceitando um pouco de variação na sua renda, parece uma boa troca. Mas a Vanguard criou outra estratégia, que é um híbrido entre as duas anteriores e fez estudos que indicam que você pode gastar ainda mais do seu patrimônio de forma segura. Como funciona essa estratégia?

Você determina uma porcentagem do patrimônio a ser gasta no primeiro ano digamos que os 3,9% da estratégia anterior R$110’175.
No ano seguinte você aplica a inflação sobre esse valor, digamos 5% de inflação = R$115’684
Essa estratégia traz dois novos parâmetros, as taxas de variação anuais máximas, tanto pra cima, quanto para baixo, digamos 3% para baixo e 5% para cima. Com esses parâmetros calcula o piso de gastos R$112’213 e o teto de gastos R$121’468, então calcula os 3,9% do patrimônio atual. Digamos que seus investimentos renderam 10% no primeiro ano, então (2’825’000 – 110’175) x 1,1 x 3,9% = 116’466 que será seu gasto anual no segundo ano. Caso ele fosse abaixo do piso você gastaria o piso, caso fosse acima do teto você gastaria o teto.

Resumo:
Taxa de retirada segura: 3,9% = R$110’175 / ano = R$9’181 / mês
Taxa de sucesso: 100%
Variação de renda: 93’650 a 361’725 (média 124’641)
Chance de deixar muito dinheiro para trás: 7%
Chance de passar sufoco: 14%

Essa estratégia da Vanguard realmente permite um gasto maior (em média 25% maior), com maior taxa de sucesso e melhor aproveitamento do patrimônio comparado com a estratégia 1. Comparado com a estratégia 2 há uma possibilidade de gasto médio maior desprezível, menor volatilidade e um aumento do risco de longevidade.

No geral as estratégias 2 e 3 são melhores, pelo simples fato de se preocuparem com o resultado dos investimentos, enquanto a estratégia 1 é alheia ao resultado dos investimentos. Acho que na vida real ninguém assistiria seu patrimônio sendo depenado e continuaria gastando o mesmo.

Com base nessas simulações prefiro a estratégia 2 (taxa segura de retirada de 3,9% com piso de 15%), pois é robusta quanto ao risco de longevidade, permite aproveitar melhor o patrimônio que a estratégia 1 e é menos complicada que a estratégia 3.



Patrimônio de SET/2024

Patrimônio = R$ 2’112’886,90 (2’917’725 com PP)
Aporte = R$ 55’363,15 (2,62% patrimônio)
Rentabilidade = -0,69%, acumulado 12m = 21,55%
Inflação = 0,26%, acumulado 12m = 4,23%
CDI = 0,79%, acumulado 12m = 10,95%

Rendimento dos FII = R$ 5’341
Previsão da renda da PP = R$ 5’159
Total = R$ 10’500
Renda máxima utilizável 2025 (TSR 3,9%) = R$ 9’483
Piso de renda 2025 = R$ 7’871

Plano de investimento para 2025:
Comprar pelo menos 0,3 título Educa+ 2031 por mês.
Comprar pelo menos R$ 2’400 em cotas de FII por mês.


A era dos grandes aportes termina esse mês. O dinheiro da rescisão daria para eu comprar um carro legal, dai veio o governo, mordeu IR, INSS, FGTS e sobrou dinheiro para comprar um carro menos legal.
Estou há 10 dias fora do trabalho, ainda acertando coisas como a homologação da rescisão e a portabilidade da previdência. Acho que não consigo receber o primeiro pagamento da previdência em outubro, então já começo na pindaíba :))

Toda a rescisão foi investida rapidamente, incrível com ao longo dos anos construindo o caminho FIRE ficamos bons nisso. A maior parte foi para o Tesouro Educa+ 2031 para começar a me garantir uma renda entre 2031 e 2036, uma parte foi em FII e uma parte eu separei para gastar livremente, sem culpa. Não é que essa parte não foi investida, ela está investida em CDI com liquidez diária, e roubando a ideia do SrIF, vou chamar esse fundo de Tio Patinhas, para onde irá parte do orçamento mensal que eu não gastar.

Por enquanto parece que eu estou de férias, ainda não caiu a ficha. O que eu percebi foi que meu humor ficou com uma amplitude maior. Meu humor sempre foi muito estável, sem muitos picos de felicidade e sem muitos vales de tristeza. Mas teve alguns dias que eu me peguei mais feliz e satisfeito, com um sorriso no rosto logo após ter tirado uma soneca depois do almoço. Da mesma forma que esse pico de felicidade veio do nada, de noite estava chorando sem motivo, nostálgico, lembrando do passado.

Outra coisa é que minha mente fica fervilhando de possibilidades, parece que eu posso fazer tudo, aprender sapateado e boxe ao mesmo tempo, estar no deserto do Saara e logo depois no Ártico, que eu posso morar onde quiser. Toda essa sensação é obviamente enganosa, primeiro que minha IF não aguenta essas extravagâncias, e nem eu aguento essas extravagâncias, eu sou apenas um tiozinho, cuja maior parte da vida era ir ao trabalho e negligenciar a saúde, que foi abençoado por não precisar mais trabalhar. Qualquer caminho que eu queira seguir é uma longa caminhada, não dá para correr uma maratona sem treino.




Ad augusta, per angusta.

domingo, 1 de setembro de 2024

Puxei o gatilho e atualização do patrimônio de AGO/24

“Nenhum arrependimento muda o passado, nenhuma ansiedade te prepara para o futuro.” - Bastter

Puxei o gatilho, como dizem os gringos, pedi demissão do emprego e estou cumprindo aviso prévio.
Impressionante como uma coisa planejada por 20 anos pode parecer meio impulsiva.
Bom, agora sabemos qual é minha tolerância a trabalhar sem precisar, bem baixa, desde que descobri que tinha atingido o número da IF eu consegui ficar apenas 6 meses, quando a previsão inicial era um ano. Dizem que apenas quando a situação se apresenta de verdade é que você tem a chance de se conhecer, então agora eu sei que não sou aqueles que vão ficar no “só mais um ano” e enrolando para abraçar a independência financeira.

Vários fatores foram se acumulando e fizeram eu tomar a decisão:

Risco assimétrico de perder parte da renda.
Esse se apresenta mais na minha previdência privada, pois a renda que virá dela depende do saldo.
Quase tive um treco quando teve uma queda expressiva na bolsa do Japão que parecia ser um crash generalizado do mercado.
Isso me afeta assim, hoje a cada mês que eu fico trabalhando, eu aumento a renda em R$65 por mês. No entanto, em caso de uma crise que leve os ativos a desvalorizar 10% eu perco R$500 por mês por 20 anos.
Então ficar trabalhando um mês a mais pode me fazer receber menos renda.

A proximidade da aposentadoria faz que eu não queira mais pegar jogo difícil.
Meu trabalho, guardadas as devidas proporções, é semelhante à de um piloto de avião. No geral é tranquila, enfadonha, cansativa; mas em alguns poucos momentos pode ser desesperadora. É uma mistura pouco saudável de tédio com stress.
Há alguns dias quando eu chegava para pegar o meu turno e é possível, por alguns indicativos, saber se as coisas estão tranquilas ou complicadas antes de entrar na planta industrial. Eu vi que as coisas estavam complicadas ainda no transporte e comecei até a passar mal, já antevendo o stress e o trabalho que eu teria naquele dia. Não pude deixar de pensar “por que me submeter a isso quando eu não preciso?”.

Chatices normais do dia a dia.
Deu pra ver que eu fui ficando cada vez mais intolerante as chatices normais do trabalho, supervisor com picuinha para marcar as férias, pressão para que eu viesse trabalhar nas folgas (essa é curiosa, pois a maioria dos outros colegas gosta disso para receber horas extras). Enfim, coisas normais de todo trabalho que normalmente você engole, eu simplesmente apenas não estava mais disposto a engolir. Isso pode parecer coisa de mimado, e eu acho que é exatamente isso, ter a possibilidade de não aceitar mais esse tipo de coisa me deixou mimado. Mas esse não é todo o ponto da IF? Ter liberdade para escolher o que você aceita e o que você não aceita.

Eu sou uma pessoa reservada, mas o fato de ter pedido demissão caiu muito forte na rádio pião. Demissão onde eu trabalho é muito raro, a ponto de nesse 16 anos de trabalho eu só ter visto uma pessoa que pediu demissão e ouvir histórias de outra em outro setor. A ponto de ter pessoas que nunca falaram comigo me abordando e histórias absurdas de que eu teria brigado com o gerente. Virei um entretenimento passageiro na vida dos outros, huehue.
Uma das interações curiosas aconteceu com um cara que veio confirmar comigo se eu tinha realmente pedido demissão e ficou todo empolgado dizendo que queria pedir demissão também, que queria estar no meu lugar. Quando eu falei que isso era fruto de um planejamento de 20 anos foi triste ver o cara murchando. Ele certamente queria ser eu agora, mas não queria ser eu nos 20 anos de batalha que tornaram isso possível. Acho que vou começar a falar que o tigrinho tá pagando muito, para manter a ilusão das pessoas de que existe um caminho fácil e rápido.

Entrando em uma discussão filoso espiritual, ter que trabalhar foi uma das punições de Deus pelo pecado original. Alcançar a IF anula essa punição? Que delicias me aguardam na reconquista do Éden? E que serpentes espreitam?


Patrimônio de AGO/2024

Patrimônio = R$ 2’072’208,05 (+786’525 na PP)
Aporte = R$ 9’429,43 (0,45% patrimônio)
Rentabilidade = 0,48%, acumulado 12m = 20,98%
Inflação = 0,22%, acumulado 12m = 3,93%
CDI = 0,87%, acumulado 12m = 11,22%

Rendimento dos FII = R$ 5’117
Previsão da renda da PP = R$ 5’042
Total = R$ 10’159
Renda máxima utilizável (TSR 3,9%) = R$ 9’291




Ad augusta, per angusta.