quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Atingi a independência financeira? E atualização do patrimônio de FEV/24

“O homem que não lê, não tem vantagem alguma sobre o homem que não sabe ler.” – Mark Twain

De acordo com meus cálculos da postagem do mês passado eu preciso de 345x meus gastos para considerar que atingi a independência financeira, ou seja, 345 x 7500 = 2,6kk.
Hoje meu patrimônio total é 1,7kk mais um fundo de previdência de 720k; totalizando 2,42kk.
Esse valor está abaixo do requerido, ainda assim posso já ter alcançado a IF?

Meu planejamento para a IF nunca foi apenas baseado em patrimônio ou apenas em renda, é um modelo híbrido baseado tanto em renda, quanto em patrimônio.
Assim eu comecei a pesquisar quanto esse meu fundo de previdência me propiciaria de renda, a resposta é R$4630 por mês, corrigidos pelo IPCA, por 20 anos. Como eu já recebo R$4000 por mês dos FII, posso considerar que tenho uma renda passiva de R$8630 hoje.

No entanto, existem alguns problemas com essa renda passiva:
Parte dela é apenas por 20 anos, esse problema deve ser minimizado pois em 20 anos, caso não haja nenhuma outra reforma da previdência, eu devo começar a receber minha aposentadoria do INSS por idade no valor de R$4000. Como eu acho que haverá pelo menos mais duas reformas da previdência nesses 20 anos, então a idade e o valor dessa aposentadoria são meio incertos. Porém mesmo com as reformas há regras de transição, então quanto mais próximo dos 65 anos eu estiver, mais eu tenho um “direito adquirido” a essa aposentadoria.

Outro problema é que nem o IPCA, nem a renda dos FII sem reinvestimento acompanham muito bem a subida dos preços e levam no longo prazo uma perda do poder de compra. Como estamos falando de décadas, isso é relevante, assim eu planejo reinvestir pelo menos 30% do valor da renda para prevenir essa perda do poder de compra. Então se R$7500 são 70%, 100% é R$10700.

Aqui eu divido meu patrimônio, deixo de contar a parte que gera renda (2,42kk – 720k – 420k = 1,28kk), isto é, o fundo de previdência e o valor dos FII e passo a computar apenas como renda de R$8630 e não como patrimônio. E passo a considerar que a outra parte do patrimônio que não gera renda deve cuidar dessa perda de poder de compra, a diferença 10700 – 8630 = 2070 ou 25k por ano (1,94% do patrimônio, bem abaixo dos 3,5% de taxa de retirada segura).

Entrei em choque vendo que já posso me aposentar hoje. Então, vou me aposentar hoje? A resposta é não.
É meio uma loucura isso, depois de tanto tempo perseguindo parece que eu fui surpreendido, não parece verdade, parecia algo impossível de alcançar. O que eu vou fazer é começar a pensar de forma mais séria em realmente parar de trabalhar e me preparar durante esse ano.

Cada ano a partir de agora que eu trabalhar a mais vai aumentar a minha margem de segurança e vai me comprar mais luxos. Fazendo uma previsão, meu fundo de previdência deve gerar R$500 de renda extra para cada ano a mais trabalhado.
Então vou me organizar durante esse ano adotando algumas medidas preparatórias:
- Aumentar a minha reserva de liquidez para 110k. Acho importante ter uma reserva robusta de uns 18 meses de gastos quando passar a viver de renda passiva, ainda mais que parte dessa renda passiva é variável e o que não falta em FII é rolos.
- Turbinar meus aportes em FII. A hora é agora, quanto mais renda passiva eu garantir enquanto ainda estou trabalhando, melhor.
- Começar a investir no tesouro Educa+ 2026. Desisti do Renda+ 2030 e vou aportar nesse Educa+ que começa a pagar antes e pode ser importante para gerar renda nos primeiros anos da aposentadoria que são mais críticos.

Essa aposentadoria baseada uma parte em renda também tem a vantagem de ser muito resiliente a anos ruins na renda variável. O maior pesadelo de quem se aposenta por investimentos é ter uma sucessão de anos ruins logo no começo, o que levaria a pessoa a vender ativos em um momento ruim e levar a um fim prematuro do patrimônio. A meu ver eu não corro esse risco pois minha reserva mais robusta permite que eu enfrente já de cara 4 anos de queda dos mercados sem precisar vender nada. Pode acontecer? Claro que pode, mas não aconteceu em nenhum período nos últimos 150 anos de dados do mercado financeiro americano.
Tudo o que eu posso fazer é ser o mais cuidadoso possível no planejamento e isto estou sendo.
Já dá para mudar meu nome para Sr. Mendigo 365?

Outra possibilidade é continuar trabalhando e como já tenho um valor que me permite parar de trabalhar, começar a aproveitar todo o meu salário, pois não tenho mais a obrigação de poupar parte dele. Considero essa uma possibilidade descartada por vários motivos:
- O salário que recebo hoje é significativamente maior que meus gastos, assim viver com esse salário todo levaria a hábitos financeiros que teriam que diminuir na aposentadoria. Uma receita para o fracasso.
- Recebo periculosidade. Nenhuma empresa é boazinha e paga isso de bobeira, meu trabalho é perigoso e também insalubre. Alongar o tempo trabalhando nisso é burrice.
- As coisas que mais me incomodam hoje são a falta de flexibilidade e o pouco domínio que tenho sobre o meu tempo. Mais dinheiro não vai consertar isso. Dou um exemplo, faz tempo que quero fazer um cruzeiro de travessia vindo da Europa para o Brasil, e não consigo, pois as datas desses cruzeiros são bem especificas e eu tenho que ficar mendigando (com o perdão do trocadilho) férias e nunca consigo exatamente no período que quero.
Assim essa possibilidade de continuar trabalhando é descartada. Devo então trabalhar até o ano que vem e só não pararei caso ocorra um desastre que leve a uma queda muito grande no saldo do meu plano de previdência e diminua muito o meu recebimento de renda dos FII.

No final do ano refaço as contas e se tudo estiver certo penduro as chuteiras. Abandonar um emprego que paga bem é difícil (mais do que eu esperava), contudo em algum momento temos que decidir o que é mais importante: tempo ou dinheiro.


Patrimônio de FEV/2024

Patrimônio = R$ 1’821’114,02
Aporte = R$ 32’664,77 (1,79% patrimônio)
Rentabilidade = 4,36%, últimos 12m = 21,43%
Inflação = 0,12%, últimos 12m = 1,25%
CDI = 0,76%, últimos 12m = 11,88%

Tudo subiu esse mês, impossível alguém ter ficado negativo.
Maior rentabilidade mensal que eu já tive. Essa é a cara da bola de neve? Demorei 8 anos para obter os primeiros R$500k, em 1 anos e meio meu patrimônio subiu R$500k.
Aporte com não recorrentes: PLR + saque aniversário.
Bitcoin é um ativo assombroso. Não sei se vai dar certo, se vai falhar e ser dominado por governos, o que eu sei é que ele valorizou mais em um mês do que todo o dinheiro que eu coloquei por anos.

Cabe uma ressalva a essa animação toda, quem acompanha o blog a algum tempo lembra que há menos de um ano eu estava chorando, com rentabilidade abaixo da inflação e patrimônio estagnado. Regularidade é a chave, aportar quando está ruim é até mais importante do que aportar quando está bom. Obviamente nossa mente primitiva de manada joga contra e quer comprar bitcoin a U$60k, da mesma forma que rejeitou o bitcoin abaixo de U$20k. Importante ter um plano de investimentos para deixar a emoção de fora.



Ad augusta, per angusta.

17 comentários:

  1. Muito bem Mendigo, já pode mudar o nome com certeza :D

    Eu admiro muito você que tem uma renda tão alta e consegue manter um estilo de vida "frugal", vivendo com menos de 7k.

    Muito sucesso para você, vou ficar acompanhando aqui as novidades!

    Abraços!

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    1. Acho que a resposta é ter uma vida simples. Eu tenho a impressão que a maioria das pessoas sempre querem mais, não importa o quanto elas tenham. Eu talvez tenha uma facilidade para enxergar o que basta, o que é suficiente.
      Já tive uma vida louca em baladas, já fiz viagens internacionais, já comi em restaurantes excelentes, já tive carro importado. A verdade é que tudo passa, tudo torna-se banal se feito em demasia. O décimo destino incrível de viagem nunca será mais marcante que o primeiro, dirigir o carro dos seus sonhos, depois de 6 meses torna-se o normal.
      Então o que funcionou para mim foi ter uma vida mais simples (com gastos fixos baixos) e ter picos de experiencias marcantes (e que são marcantes por serem raras).
      Abraços.

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  2. Fala, Mendigo, primeiramente, parabéns!!!

    "No entanto, existem alguns problemas com essa renda passiva: Parte dela é apenas por 20 anos" - Que renda fixa é essa?

    "Outro problema é que nem o IPCA, nem a renda dos FII sem reinvestimento acompanham muito bem a subida dos preços e levam no longo prazo uma perda do poder de compra" - Excelente ponto, tbm sou convicto disso.

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    1. Essa renda é uma previdência daquelas que o empregador contribui com o mesmo que você até um limite. Eu vou escolher receber por 20 anos, poderia escolher receber por mais tempo ou até de forma vitalícia (um valor muito menor). Porém acho que receber por 20 anos já é tributariamente interessante, pois vou pagar apenas 6% de IR no recebimento dessa renda.
      Eu nunca computei essa previdência no meu patrimônio e acho que fiz bem, pois eu nunca terei todo o dinheiro a minha disposição e ele virará uma renda corrigida anualmente pelo IPCA.
      Admito que parece que eu "roubei" por não considerar esse dinheiro, mas a ideia inicial era não contar com esse dinheiro e usa-lo apenas como margem de segurança. Contudo eu fui ficando cada vez mais de saco cheio do trabalho e decidi contar com esse dinheiro.
      Abraços.

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  3. Sugiro você considerar no seu cálculo a possibilidade de tributarem em uns 15% a renda dos FIIs, só por precaução, pois esse atual governo é gastador e faminto por impostos. Acredito que em um cenário destes a tendência seria os valores das cotas no geral sofrerem uma queda para compensar isso e manter o DY mais ou menos no mesmo patamar.
    A dificuldade de largar um emprego, ainda mais um que pague bem, é em parte pela inércia (você está trabalhando há algum tempo nisso, e é difícil mudar de direção assim bruscamente), parte pelo medo do desconhecido e parte por cobrança social (ninguém espera que uma pessoa que tem um cargo bom numa empresa ou que ganhe bem simplesmente saia do trabalho exceto num plano de demissão voluntária cheio de benefícios, ou na aposentadoria mesmo). Deve ter outros fatores, mas de bate-pronto são esses que me vem à mente quando tento me imaginar na sua situação.

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    1. Essa possibilidade de tributarem os FII sempre assombra essa classe de ativos, temos que conviver com isso. Todas as vezes que tentaram os cotistas se mexeram rápido e o governo voltou atrás, de qualquer forma é um risco que eu não sei mensurar se é provável ou não.
      Sobre largar o emprego, o que me pega no momento é o medo de estragar um plano de 20 anos bem no finalzinho. Então eu corro o risco de cair no "só mais um ano". Acredito estar fazendo as coisas com uma margem suficiente de segurança. O medo sempre vai existir, pois é um caminho pouco trilhado e nós humanos gostamos de pertencer ao grupo, e estamos sempre mais confortáveis na manada.
      Abraços.

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  4. Grande mendigo, tudo bem? Primeiramente, meus parabéns chegar nessa quantia não é fácil e só quem já passou pela jornada sabe disso.

    Tenho dois pontos pra te falar:

    1 - Um dos grandes gastos que temos na velhice é com plano de saúde, como estão os seus cálculos e expectativas com relação a esse ponto?

    2 - Imagino que apesar do patrimônio polpudo, a hora de largar a renda do trabalho e viver exclusivamente dos rendimentos deve ser o mais difícil do FIRE, depois nos fala como será essa jornada.

    No mais, parabéns e tudo de bom pra você e sua família.

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    1. Estou levando em consideração um plano de saúde e será uma despesa relevante de 13% do orçamento. Uma coisa que me incomoda é a tendência que eu tenho percebido de haver cada vez menos oferta de planos individuais. Se essa tendência continuar esses planos vão ficar cada vez mais caros. Eu considero importante ter plano de saúde, mas não a qualquer preço. Por exemplo se o plano subir a ponto de consumir 40% do seu orçamento, vale a pena? Não dá para viver apenas para pagar o plano.
      Mais um exemplo que atingir a IF não é zerar a vida, você ainda fica sujeito coisas fora do seu controle.
      Abraços.

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  5. "Regularidade é a chave, aportar quando está ruim é até mais importante do que aportar quando está bom."

    Aqui você foi perfeito. É sempre fácil olharmos para trás e pensar "nossa como não topei investir nisso", a verdade é que só vivemos o presente. Não dá para ficar procurando a cacetada, o negócio é definir uma estratégia e seguir ela.

    A chance de terminar com um bom retorno é maior do que procurar a grande tacada.

    Abraços,
    Pi

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  6. Mendigo, posso imaginar sua satisfação e ansiedade enquanto escrevia esse post. Isso aí é o fruto de um trabalho descomunal para os meros mortais como nós. Parabéns e continue nos atualizando sobre a sua e próxima vida FIRE.

    Abraço.
    https://engenheirotardio.blogspot.com/

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    1. Satisfação e um pouco de medo. Pode apostar que eu sou tão mortal quanto, apenas tive uma disciplina boa desde o primeiro dia de trabalho (já entrei querendo sair) e tive a sorte de ganhar um salário um pouco acima da média.
      Abraços.

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    1. Estou com um pouco de medo do desconhecido, o que é normal. "Coragem não é a ausência de medo, coragem é enfrentar o medo".
      Abraços.

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  8. Bem vindo. Força que a caminhada é longa. Abraços.

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  9. As vezes acho que seria interessante recalcular a minha meta para que seja mias realista com a minha realidade agora, e talvez fazer esse balanceamento entre renda passiva e patrimônio seja uma saída... difícil é ter certeza quanto tempo mais vai viver pra poder prever isso rsrs...

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    1. Por que não adotar inicialmente o 1 milhão que é bastante popular? Depois vai recalculando e mudando a meta inicial, afinal a IF é algo que demora e temos mudanças na vida e inflação.
      A matemática de quando vamos morrer é macabra, eu estimei viver até os 85 baseados em quanto viveram meus avós e tios.
      Abraços.

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