quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

É melhor aplicar no Tesouro IPCA mais longo possível ou aplicar em um CDB IPCA a cada dois anos? E atualização do patrimônio de JAN/23

“Vitimas não procuram soluções, procuram culpados.”


Esse questionamento partiu de um colega de trabalho, que me perguntou no que era melhor a esposa dele investir para a aposentadoria: em um título do tesouro IPCA+ ou em um CDB IPCA+ que paga juros maiores. Quase no reflexo eu respondi que o tesouro seria melhor, talvez por anos ouvindo o Bastter e suas voadoras, taxa não ganha de tempo, etc.

Mas eu fiquei com a pulga atrás da orelha e decidi fazer os cálculos, eu sabia que uma boa vantagem do tesouro é de pagar o imposto de renda só no final. Eu sabia que meu pensamento estava certo qualitativamente, mas estaria certo quantitativamente? Quanto o CDB tem que pagar a mais de juros para valer a pena?

Peguei os dados disponíveis no dia:
Tesouro IPCA 2045 = 6,36% a.a
CDB IPCA 2 anos = 8,49% a.a

Fazendo os cálculos com a taxa do título do tesouro, depois de 22 anos, já liquida de IR, chegamos a uma rentabilidade de 245,02%.
Fazendo os cálculos com a taxa do CDB, fazendo 11 aplicações consecutivas de 2 anos com a mesma taxa, descontando o IR e aplicando apenas o líquido, chegamos a uma rentabilidade de 366,88%.

Confesso que na hora tomei um susto, pois esperava que o tesouro rendesse mais. Conferi os cálculos, coisa que não teria feito se o resultado desse o que eu esperava. Restava então calcular qual a taxa do CDB que rende igual a um título do tesouro de longo prazo, e a taxa encontrada para esse caso foi 6,78%. Ou seja, uma diferença na taxa de 0,42% já paga o fato de você estar pagando o IR adiantado no CDB, bem menor do que a diferença de 2,13 oferecida hoje.

Já vejo vocês alvoroçados reclamando.
Mas Mendigo, os cálculos foram feitos considerando uma taxa fixa do juro do CDB e é impossível que eu consiga essa taxa a cada dois anos. Correto, mas se você estivesse investindo mensalmente no tesouro também não conseguiria a mesma taxa até o final, tanto no CDB, quanto no tesouro você conseguiria as taxas de mercado, e o que vale para dizer se um vai render mais do que o outro é a diferença da taxa.

Nesse ponto muitos ficariam tentados a dizer que o CDB é melhor. Mas tenham cuidado, não existe melhor investimento assim no seco, existem melhores investimentos dependendo do nível de risco, da liquidez desejada, do nível de trabalho com a gestão do patrimônio e da disciplina financeira de cada um. Não adianta nada alguém ver aqui que o CDB rende mais se essa pessoa a cada dois anos de vencimento do CDB vai ceder à tentação e ao canto da sereia daquele investimento que estiver na moda, enquanto se tivesse colocado apenas o valor no tesouro e esquecido, estaria melhor na aposentadoria.

Então eu fiquei matutando se investir no tesouro teria alguma vantagem. Então a conclusão que eu cheguei é de que é bom investir no tesouro quando você pega uma taxa “boa” para travar essa taxa por um longo tempo. O X da questão é o que é uma taxa boa?
Assim eu peguei as taxas do tesouro IPCA mais longo disponível na data desde janeiro de 2007 e saiu esse gráfico aí:




Vemos que nos últimos 16 anos as taxas só passaram uma vez de 8% e algumas vezes de 7%. Alguém de melhor qualidade faria um tratamento estatístico nesses dados e te diria qual o valor da taxa que é boa em 95% do tempo. O Mendigo tosco aqui vai no olhômetro e diz que travar uma taxa acima de 6,5% parece uma boa. Lembrando que isso são dados que se referem ao passado, não ao futuro. Assim se o Brasil continuar mais ou menos na mesma os números têm maior chance de servirem para alguma coisa. Caso o Brasil melhore ou piore muito esses números têm tendem a refletir menos a realidade.

E dizem que a sorte não cumpre o seu papel. Eu, mesmo não sabendo de nada disso na época, travei um terço do meu patrimônio em 2016 em IPCA+7,10% 2035. Que a fortuna continue protegendo os mendigos e as crianças.


Patrimônio de JAN/2023

Patrimônio = R$ 1’321’724,13
Aporte = R$ 15’065,21 (1,14% patrimônio)
Rentabilidade = 0,79%
Inflação = 0,46%
CDI = 1,12%
Rentabilidade acumulada desde dez 2017 = 31,46%
Inflação acumulada = 37,37%
CDI livre de IR acumulado = 28,05%


Finalmente meu patrimônio saiu da casa dos um milhão e duzentos mil, demorou 15 meses para ele crescer R$100k, o maior tempo desde que eu acompanho. E pensar que nas épocas de subida dos mercados eu já aumentei R$100k em 4 meses.

Rentabilidade positiva é sempre bom.

Viram que está disponível o novo título do tesouro Renda+? Vou fazer um post mês que vem detalhando a estratégia do mendigo com esse novo título.






Os bons tempos estão voltando.

9 comentários:

  1. vc acha que debêntures incentivadas não é melhor ?

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    1. Eu já tomei no cu com debênture incentivada, rodovias Tiete, perda total, então para credito privado prefiro FGC.
      É possível diversificar o risco das debêntures através de um fundo de debêntures, mas as taxas podem acabar colocando todo o lucro no bolso dos gestores e não do seu, tem que fazer os cálculos.

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  2. Legal a análise. Realmente deve ser difícil pegar taxas tão boas de CDB a cada 2 anos, sem falar que os CDB que pagam nais tendem a ser de "banquinhos", como o Bastter os chama, e que são mais arriscados - volta e meia tem um banquinho falindo.

    Eu até hoje não investi nada em Tesouro. Tenho um pé para trás em relação a isso. Tenho mais meso desses títulos do que de ações. Vai entender, né?

    Uma vez discuti isso com um colega de trabalho e ele fez uma pergunta que eu achei interessante: será que alguém já conseguiu carregar um título desses do tesouro pelos 30 anos? Será que alguém já chegou no final do prazo? Ou será que isso é feito, no fundo, para ninguém conseguir carregar até o final?

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    1. Eu comprei o titulo IPCA+ 2035 em 2016 e pretendo carregar até o final. Não são 30 anos, mas são quase 20. Pretendo colocar um dinheiro também no novo titulo Renda+ que termina o pagamento em 2070, são 45 anos confiando no país. Poucas pessoas investem e das que investem quase todas são viciadas em liquidez.

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    2. Ué, em comprei Tesouro 2024 em 2017 e ano que vem já está aí. Passa mais rápido do que você imagina!

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  3. Oi Mendigo, bom dia

    Gostei da comparação feita entre CDB e TD. No momento tenho uma alocação pequena de TD na carteira. Confesso que fiquei tentado a fazer mais investimentos em TD quando a taxa ficar acima de 6,5%.

    Abraços,

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  4. Boa tarde Mendigo! Legal a comparação! Como já foi falado o CDB tem a grande desvantagem de ser curto e com isso ter que renegociar a taxa toda vez que há um resgate, minimizando a chance de aproveitar períodos de SELIC baixa para vender o TD e aproveitar a marcação a mercado. Se não for com esse intuito acho que tanto faz...ambas são boas escolhas (apesar de preferir ativos isentos de inflação). Grande abraço!

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  5. Mendigo,

    Muito bom o estudo sobre CDB vs. TD IPCA+, acredito que o que o Bastter falou contina certo quando levamos em conta duas taxas iguais, no seu exemplo você mencionou uma taxa de CDB mais alta do que de TD IPCA+, isso abre um outro questionamento: qual o nível de prêmio de risco mínimo que devemos aceitar para não investir no TD?

    Gostei muito do seu gráfico sobre o histórico do TD IPCA+ desde 2007, parece que estamos vivendo um bom momento para aportar.

    Abraços,
    Pi

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  6. Caramba, fenomenal seu estudo. Minha carteira está recheada de CDBs de bancos pequenos pagando IPCA + 7, 8 e até 9! Mas escolho sempre títulos entre 3 e 5 anos de vencimento. E sempre no mercado secundário. O spread sobre o Tesouro costuma girar entre 200 bps e 300 bps, o que é muito bom. (apaguei o anterior que dizia 2 e 3, tava errado)

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